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Vida, Solidariedade e Generosidade uma experiência na Comunidade de Cazumbá-Iracema. Parte 1

Aurelice Vasconcelos vem de Brasília é minha amiga do grupo de Pesquisa Em Mediação Cultural: Provocações e Contaminações Estéticas do Programa de Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Mackenzie. Foi em 2016 que entrou no grupo e nos contou qual era a pesquisa que fazia e onde era. Conforme ela foi contando com sua fala mansa e com o seu sorriso encantador fui prestando atenção ao que ela falava e parece que tudo se amplificava. Seu trabalho era no Acre na reserva extrativista Cazumbá-Iracema fotografar junto, com e para a população daquele local. Para isso, durante quatro anos ela praticamente mudou-se para lá, passando temporadas de 4 meses ou mais. Na reserva se hospedava no alojamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) um dos apoiadores e incentivadores de sua pesquisa.


Hoje ela é parte da comunidade e dizem que conhece mais do que os próprios moradores. Não tem uma casa em que não é bem recebida. É o amor de todos.


Do meu lado, ao escutar Aurelice e pensar na triangulação que ela estava criando, tanto na pesquisa quanto na vida, me instigava. Acre, que lugar é esse? O que me vinha à mente era de uma mata imensa. Pensar em uma reserva extrativista me foi mais difícil. Tive de entender o significado dessa palavra e entender de que pessoas estava sendo tratado. Pela maneira que Aurelice falava da reserva foi crescendo a vontade de ir para lá. Tentei ir uma vez em 2018, perto do carnaval, mas os preços estavam proibitivos. No início de 2019 fui à sua defesa de doutorado. Aurelice havia tentado levar a banca para a reserva e lá fazer a defesa. Achei a ideia linda, mas não foi possível a instituição achou que não era viável. Perseverante, organizou uma apresentação informal na própria reserva, convidando amigos e amigas mestres e doutores para participar dessa aventura. Logo me inseri no programa. Tendo o grupo formado, Aurelice acreditou que seria uma ótima oportunidade para que todos nós nos inteirássemos da comunidade e organizou para essa temporada palestras e oficinas para construirmos saberes juntos.


No grupo da aventura, somos cinco professoras pesquisadoras, Rita Demarchi doutora em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, Rosana Gonçalves da Silva doutora em Educação e Ecologia Humana pela Universidade de Brasília, Aurelice Vasconcelos doutora em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, Renata Americano mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie e eu mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Além de nós, que depois dessa temporada “seremos amigas para sempre”, fizeram parte de nossa excursão Luiz Lima, psicólogo clínico, filósofo, gerontólogo, teólogo e tio, Cleonice Antunes Pereira professora aposentada e primeira professora de Aurelice, Vera Lúcia Vasconcelos educadora social, atualmente fazendo curso de gerontologia na Universidade de Brasília e mãe de Aurelice; Marcelo Império Grillo (Mig), músico e educador, amante da natureza com foco nas árvores. Aurelice apresentou seu doutorado em uma sala da escola municipal rural de Cazumbá. A sala estava lotada com quase todos os integrantes da comunidade. Foi lindo e de arrepiar ver as pessoas se reconhecerem no trabalho de Aurelice. Havia fotos que mostrava apenas as mãos trabalhando e logo se escutava” olha a mão do Márcio, essa é da tia Nói”. Se reconheceram e se sentiram reconhecidos. Protagonistas da história.


Rita Demarchi conversou com eles sobre o trabalho de Aurelice e uma fala poética foi ajudando a ver a belezura que havia ali e que eles eram a beleza mais linda e pura do trabalho-vida. As pessoas se viram em suas palavras e nos dias seguintes podíamos escutar elogios e como eles estavam agradecidos por Rita ter mostrado um caminho para a autovalorização. No dia que estávamos indo embora o Sr. Longo ao ver a professora doutora caminhando no meio do barro para ir pegar a canoa, correu para ajudá-la e foi logo pegando sua bagagem e contando que ele é que havia arrumado a canoa para nossa volta.


Luiz Lima, psicólogo clínico, filósofo, gerontólogo, teólogo e tio, fez uma palestra sobre drogas e família. No dia seguinte muitas pessoas foram procurar sua ajuda e conselhos. Ele não teve menor dúvida, montou uma sala para atendimento na casa ao lado do alojamento do ICMBio para orientar as pessoas que o procuravam.


Em uma noite Márcio filho da Dona Algecida e do Sr. Davi, fez uma palestra para nosso o grupo no alojamento ICMBIO (Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade), sobre a coleta da castanha. Que fique claro, Castanha do Brasil. Cleonice pegou a castanha que trouxera de Brasília e Márcio e tia Noi riram muito, disse que comemos castanhas estragadas sem o leite. Nos presentearam com castanhas recém colhidas. Entendi por que riam tanto.


Tia Nói ria e dizia: “Olha só a castanha que paulista come!” Renata Americano fez uma oficina provocativa com os professores da escola, Chiquinho, coordenador; Madalena, professora do infantil, Maria Nazareth professora substituta e estudante de EAD de Letras, Clediane merendeira e professora substituta, Silas professor de língua portuguesa, espanhol e artes do 6º e 7º ano e do Ensino Médio; Marizalda professora do 1º, 2º e 3º e professora de ciências da natureza para o 2º do Ensino Médio. Por meio de “materiais irreverentes” termo usado por Renata, as pessoas deveriam experimentar, usando a experiência como substantivo. Fenomelogicamente, como se fosse a primeira vez, ou melhor, deveriam usar de uma nova maneira e a partir disso abriu uma discussão de como trabalhamos em sala de aula, como descobrir novos olhares.


Na parte da tarde completando a oficina de Renata trabalhamos com cadernos criativos, provocando e se contaminando com a alegria do fazer e refletir sobre o que pensamos quando estamos fazendo, elaborando e criando. Participaram da oficina Chiquinho, coordenador; Madalena, professora do infantil, Maria Nazareth professora substituta e estudante de EAD de Letras, Clediane merendeira e professora substituta, Silas professor de língua portuguesa, espanhol e artes do 6º e 7º ano e do Ensino Médio; Marizalda professora do 1º, 2º e 3º e professora de ciências da natureza para o 2º do Ensino Médio, Gerson professor do Fundamental, Rita Demarchi e Ateíde responsável pela limpeza da escola à tarde. Ainda agora, três dias após essa vivência fico emocionada de lembrar da oficina feita com papel emprestado de Rosana Gonçalves, frutos, sementes que foram usados como pigmentos e coletados por Renata Americano, além do seu empréstimo de anilinas coloridas de cozinha, a mesa da merenda improvisada para um ateliê quase ao ar livre. A alegria dos participantes em construírem os cadernos e ver como folhas de papel se transformaram em tesouros.

Aurelice, Mig e Rosana com as crianças da comunidade fizeram um trabalho de corpo imitavam os animais. Rosana trabalhou com consciência corporal e energia. Aurelice falou dos rios voadores. Mig falou sobre as árvores, trabalhando com consciência ambiental e catação de lixo. O que fazer com esse lixo? Uma pergunta que precisa ser respondida com urgência.


Saímos da reserva no dia 01 de maio.


Voltamos de canoa, Aurelice, Renata, Rita, Rosana e eu. Nosso barqueiro foi o Márcio, o mesmo da palestra de castanha. A aventura da volta de canoa conto depois.


Ana Carmen Nogueira, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia.


Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Ateliê de Arte.


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