Poética da Imagem e da Casa: Experiência com Educadores Sociais no Projeto Arte e Expressão
- Ana Carmen Nogueira

- 18 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de out.

Em 2010, participei das oficinas de arte do Projeto Arte e Expressão, voltadas aos educadores sociais que atuavam nas redes de abrigos e nos Centros de Referência da Criança e do Adolescente (CRECAs) da cidade de São Paulo. O projeto buscava oferecer aos participantes uma atividade cultural que tivesse sentido — e esse sentido emergia quando havia prazer em fazer, atuar, inventar, descobrir, se descobrir.
A arte, nesse contexto, era mais do que técnica: era linguagem, era metáfora. E se cada um de nós está repleto de metáforas, como as minhas impactam as do outro? Como as metáforas das artes impactam os educadores sociais? Como poetizar o cotidiano?
Foi nesse espírito que trabalhamos com a placa gel, uma técnica que permite imprimir imagens de forma sensível e experimental. Utilizamos fotos xerografadas, muitas delas ligadas à memória pessoal dos participantes, e exploramos a ideia da casa primordial — os espaços amados, os espaços louvados. A casa como símbolo de proteção, mas também como espaço imaginado, vivido com todas as parcialidades da imaginação.
A proposta era acessar as imagens da intimidade, aquelas que não se mostram facilmente, mas que ressoam quando provocadas pela arte. Os educadores sociais, que trabalhavam em casas de apoio a crianças em situação de risco, foram convidados a refletir sobre o que é habitar — não apenas fisicamente, mas afetivamente, poeticamente.
Inspirados por Gaston Bachelard, que em Poética do Espaço nos alerta para a importância de estar presente à imagem no minuto da imagem, vivemos o êxtase da novidade. A imagem poética, como ele diz, “não é um eco de um passado. É antes o inverso: com a explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa de ecos.”
Esses ecos se infiltraram nos diferentes planos da vida dos participantes, trazendo à tona novos olhares. Como escreveu Pierre-Jean Jouve: “A poesia é uma alma inaugurando uma forma.” E essa alma inaugurada é dignidade humana.
A arte, nesse processo, não foi apenas expressão, mas tradução. Como bem lembra Alberto Manguel, só conseguimos ver aquilo que conhecemos. O que vemos é a pintura traduzida nos termos da nossa própria experiência. Assim, educadores sociais que vinham de contextos onde a arte — especialmente a contemporânea — não fazia parte do cotidiano, puderam experimentar a criação como forma de reconhecimento e pertencimento.
A oficina com a placa gel foi, para muitos, um primeiro contato com a linguagem poética da imagem. Um espaço onde o fazer artístico deixou de ser distante e sacralizado, e passou a ser vivido como possibilidade de transformação. Como aprender japonês em braile, sim — mas com a beleza de descobrir que, mesmo sem saber a língua, é possível sentir a poesia.
Venha fazer arte!
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