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Sr. Jilberto do Cazumbá e Arte Encáustica

Tantas coisas foram vividas nesse lugar especial que é a reserva extrativista do Cazumbá, que parece que não vou conseguir parar defalar de lá.


Vamos falar de arte, artesanato, artistas, arteiros e espaço de criação.

Não é um sonho pensar em um espaço de ateliê no meio da mata?


Não é um sonho você ter esse espaço no fundo do quintal?

Não é um sonho ter a sua casa toda de madeira e lá dentro ser um aconchego só?

Pois é assim que vive o Sr. Jilberto, seringueiro e artista.

Ele extrai a borracha da seringueira e com ela faz lindos bichos da região.

Disse que aprendeu a fazer os bichos em um curso, mas alguns não gostou e começou a fazer do seu jeito. Hoje ele leva a sua produção para diferentes feiras.


95% de sua renda vem da venda desses bichos que povoam o seu “quintal”. Parece uma floresta encantada com os bichos esperando o sopro de vida pelas mãos do Sr. Jilberto.


Primeiro ele modela a borracha com serragem e deixa secar por 10 dias. Os bichos ficam tomando sol sobre uma prateleira de madeira.

Passado esse tempo ele coloca os bichos fincados por uma vareta e passada o látex pigmentado e vai passando na fumaça. Quando coagula passa nova camada de látex até que o bicho fique bem liso.

Dessa etapa eles ficam espetados no solo aguardando a modelagem do rosto e adereços. Nessa parte eles vão ganhando vida, cor e personalidade.

Trouxe comigo um Tamanduá pronto e uma Anta e uma onça sem o acabamento das várias camadas de látex. Queria experimentar. Queria ver o que era possível fazer com a pintura encáustica.

Logo que cheguei em São Paulo, no meu ateliê, segui as orientações de Sr. Jilberto de lavar a Anta e a Onça para tirar a sujeira que estava nelas. Deixei secando para trabalhar mais tarde.


O Tamanduá ficou um dia inteiro na sala, enfeitando minha mesa de centro. Tenho alergia ao látex, e acho que foi ele que me deu uma bela dor de cabeça.


Quando percebi que era isso que estava me incomodando, liguei a panela de cera e assim que derreteu mergulhei o bicho nela e o cheiro do látex foi embora.

Na verdade, mergulhei várias vezes.


A Anta e a Onça por serem porosas pegaram melhor a cera. O Tamanduá, já tinha todas as camadas do látex não pegou tão bem e ficou com excesso de cera. O que deu uma bela rachadura nas suas costas.

No dia seguinte fui ver o que eu conseguiria fazer com meus animais da floresta. Não gostei de eles estarem com uma camada muito grossa da cera. Resolvi aquecer e tirar o excesso.


Não tive coragem de tirar fotos dos bichinhos pendurados escorrendo cera. Pareciam que estavam em sofrimento. Me desculpem…


Consegui deixá-los com apenas uma camada fina de cera. Achei que assim mantinham as características do trabalho do Sr. Jilberto e isso me autorizava a fazer uma pequena intervenção.

A partir daí fiz alguns desenhos sobre os seus corpos. Pintei a Anta e o Tamnaduá com encáustica pigmentada aplicada com a caneta elétrica. A onça está me esperando para ser pintada. Ela não tem pressa, está satisfeita com a camada fina de encáustica básica.

Os bichos de Sr. Jilberto que estão aqui vivendo comigo, me fazem lembrar que é possível trabalhar, morar e viver na natureza sem retirar mais do que é necessário. Sem desmatar, sem estragar, aceitando e respeitando o ciclo da natureza. Os moradores das reservas são os nossos guardiões da floresta.

Ana Carmen Nogueira, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia.


Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Ateliê de Arte.


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