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Kintuskuori com o ouro das abelhas. Arte encáustica na restauração de objetos

Mamãe vinha de uma família de 12 irmãos. Sendo que 9 eram mulheres e apenas 3 homens. Ela era uma das mais novas. Contava que as irmãs mais velhas é que cuidaram dela. Tia Diva a ensinou o crochê e amar o francês.

As irmãs mais novas eram as suas melhores amigas e companheiras. Sempre se encontravam, sempre estavam juntas e sempre perdiam a paciência uma com as outras.


Aos poucos minha mãe foi ficando sem suas amigas queridas.


Quando eu e meus irmãos já estávamos adultos e cada um vivendo suas vidas, minha mãe já viúva morava em um pequeno apartamento no Jardim Esther. Lá ela tinha muitos objetos, bibelôs. Todos eram suas preciosidades. Não tinha nenhum que não tivesse alguma história e um valor inestimável. Um tinha sido da Zelda, outro da Noilda, da Ruth, todos sem exceção eram carregados de memórias e preciosidades. Era o museu da Dayse.


Mamãe ficou doente e foi morar em minha casa. Quando morreu, herdei alguns pequenos objetos dela e me vi fazendo a mesma coisa. Guardando o objeto como guardasse o seu coração, o seu amor.


Um desses objetos é um pequenino pote feito de pedra sabão.

Tenho três deles e sempre deixo no console que fica no lado de fora da porta de entrada do apartamento.


Outro dia deixei um deles cair no chão e a tampa se quebrou.

Peguei com cuidado e levei para o ateliê. Ficou sobre a minha mesa de apoio na espera de uma cola “super” que o consertasse.


Assim ficou até que me lembrei do Kintsukuroi ou Kintusgi, uma arte japonesa de consertar cerâmica quebrada com ouro e laca. Ficam tão lindas as cicatrizes preenchidas com ouro. A ideia é que pela imperfeição é possível nascer a beleza. Por meio das quebras, rachaduras temos crescimento interior e nos dá base para compreendermos as mudanças que a vida nos trás e assim, valorizamos as marcas, cicatrizes e histórias.


Peguei o pequeno pote e com minha caneta elétrica fui depositando pedaços de encáustica derretida para grudar os pedaços quebrados e me lembrei de minha mãe, de seu amor pelos filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e queridos.


A encáustica foi aderindo com grande facilidade à pedra sabão e ao mesmo tempo foi dando uma nova coloração deixando a peça mais escura e com um brilho que não tinha anteriormente.

Com alegria descobri que a encáustica e a pedra sabão conversam muito bem. Sua porosidade absorveu a encáustica e o excesso da cera foi retirado com muita facilidade com a esteca de raspagem.


O diálogo foi muito interessante, e mais uma vez a encáustica me mostra novos caminhos, novas possibilidades.


Faço aqui um Kintuskuori com o ouro das abelhas.


Restauração com Arte Encáustica

Venha descobrir novos caminhos. Faça Arte.


Ana Carmen Nogueira, Mestre e Doutoranda em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia. Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Ateliê de Arte.


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