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Descendo o Rio Caeté

Dia primeiro de maio de 2019 foi nosso último dia na reserva Cazumbá-Iracema.


Ali participamos da apresentação da tese de doutorado de Aurelice Vasconcelos, Renata Americano fez uma oficina para os professores, Rosana, Mig e Aurelice trabalharam com as crianças. Rita participou com os professores da minha oficina de cadernos criativos.


Fomos visitar o Sr Adelino, o homem mais velho da comunidade do Cazumbá, que nos deu um banho de sabedoria.


Visitamos o seringueiro Jilberto que além de ser seringueiro faz pequenas esculturas de animais da região com látex. Depois de visitarmos seu ateliê ao ar livre ele nos levou a uma seringueira para mostrar como fazer o corte.


Com nossa companheira Emmyle, filha de Renata e neta da tia Nói, fomos nadar no açude e voltamos felizes com a experiência e cheias de lodo.


Márcio nos deu uma palestra sobre a castanheira e descobrimos o verdadeiro sabor da castanha oferecidas pela tia Nói.


Nos encantamos com a reserva. É tão lógico viver ali, existe uma harmonia em todos e em tudo.


Já era tempo de voltar. Precisávamos descer o rio. Tínhamos em nossa agenda oficinas com os professores da rede municipal no dia 02 de maio em Sena Madureira.


A voadeira não podia ir nos buscar em virtude do feriado.

Márcio conseguiu uma canoa com motor para nos levar até Sena Madureira.

Canoa? Sim, canoa.


Acordamos cedo e Elinio, um dos meninos do quadriciclo levou nossa bagagem e fomos andando à pé até o rio. Choveu bastante na noite anterior e tudo estava bem enlameado.


Perto da casa do Sr. Longa ele nos deteve para conversar e ajudar a professora Rita a caminhar pela estrada de lama. Elinio do quadriciclo logo chegou e nos levou para perto do rio.


Mordomia total. Descemos até a beira do rio e Márcio levou nossas bagagens até a canoa. Eu não tinha opção ou descia até a canoa sem carregar nada ou iria me esborrachar na lama e cair no rio. Talvez, as que sabiam se virar melhor do nosso grupo eram a Aurelice e a Renata. Rita, Rosana e eu, somos muito urbanas.

O resto do grupo ficou para trás a espera da voadeira que iria buscá-los no sábado.


Vera, mãe de Aurelice, me deu uma almofada para ficar mais confortável na canoa.


O dia estava lindo. Viajar na canoa é outra experiência, ficamos mais perto da água, mais perto das margens, conseguimos ver melhor os pássaros voando, os macacos nas árvores. Pássaros de todos os tipos e tamanhos, borboletas também.


Aurelice logo se acomodou no meio da bagagem e abriu o guarda-chuvas para se proteger do sol e adormeceu. Rosana ficou lá atrás perto do Márcio, colocou um chapéu e uma canga para não torrar no sol. Renata, Rita e eu ficamos na frente conversando e nos deleitando com a paisagem.


Uma hora e meia depois, a canoa parou para ser reabastecida.


Que delícia. Fomos descendo o rio sem barulho do motor.

Parece que tudo ficou mais junto.

Foi lindo.

Motor abastecido, vamos continuar viagem.

Pó, pó…

Pó, poc, poc…

Pó…

Poc, poc, poc

Nada do motor pegar.

Fomos descendo pela correnteza do rio.

Márcio incansável, ia tentando fazer o motor funcionar

Pó, pó…

Pó, poc, poc…

Pó…

Poc, poc, poc

Nada.


Nada, nas margens, só pássaros, árvores e natureza exuberante.


Uma hora depois, uma canoa sobe o rio.


Acenamos, eles logo diminuem a velocidade e vão chegando perto da nossa canoa.


São a mãe, a irmã, o cunhado e o sobrinho de Márcio. Dona Algecida Maia (irmã do Nenzinho) e a filha dela Maria Maia, diretora da escola do Cazumbá, seu esposo, Preto e o filhinho Heitor que um dia vai até Brasília de canoa para encontrar com Aurelice.


Nos rebocaram até um ancoradouro que era da família de Preto e lá tentaram arrumar o motor.


Nada, parece que deu problema com a vela. Tenta dali, tenta daqui e nada.

Dona Algecida com sua fala mansa disse “meu filho troque o motor da canoa pelo nosso, vocês têm que chegar em Sena, ficamos aqui e tentamos arrumar. Se não conseguirmos, vamos ficar aqui te esperando para colocar o motor bom.”


O que falar para um povo tão generoso e solidário?


Trocaram o motor e nos despedimos sem palavras dessas pessoas iluminadas.


Chegamos em Sena Madureira, Galego estagiário do ICMBio foi nos buscar nos levou para tomar um lanche e nos deixou no hotel. Errado.


Aurelice entendeu que era para nos hospedarmos no hotel Avenida, mas na verdade o hotel ficava na avenida Brasil e se chamava Hotel Familiar.


Não tem táxi e muito menos Uber em Sena Madureira.

Volta a chamar o Galego para nos levar ao hotel certo.

À noite, o secretário de educação do município de Sena Madureira foi nos buscar no hotel para comermos uma pizza. Depois fomos passear na praça da igreja matriz que estava com uma quermesse animada.


Dia seguinte fomos visitar seu Nenzinho no ICMBIO e à tarde fomos dar oficinas no Instituto Federal do Acre, Campus Sena Madureira. Aguardem conhecer Sr. Nenzinho.


Vale a pena.

Descendo o Rio Caeté

Ana Carmen Nogueira, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia. Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Ateliê de Arte.


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