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Encáustica no Brasil

No Brasil o interesse pela pintura encáustica vem aumentando a passos mais lentos. Ao contrário dos Estados Unidos, país onde estão as referências no assunto, aqui ainda são poucos os artistas e exposições dessa técnica.


Ao longo do texto apresentamos alguns expoentes nacionais e mostras ocorridas nos últimos anos. No entanto, vale esclarecer a superficialidade da pesquisa, empecilho para abarcar todos aqueles que, heroicamente, tem trabalhado com arte e mais especificamente com o médium encáustica.


Temos esperança de que possamos ser um disparador de novos interesses e maior divulgação dessa técnica milenar que tanto nos instiga e nos apaixona.

Verde X Roxo – Vera Pavanelli, 2004


Em 2004, Vera Pavanelli fez uma exposição na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo onde apresentou obras abstracionistas que mostram essencialmente a vibração da matéria. Suas composições são construídas rigorosamente, permitindo às cores vibrarem com mais intensidade.

Estado de Salar – Fernanda Valadares, 2011


Fernanda Valadares iniciou sua pesquisa com o médium encáustica na década de 1990, mas só a partir de 2007 passou a adotá-la sistematicamente. Sua grande preocupação é o tempo, o silêncio, o espaço, espaço construído, espaço absoluto.


Ao longo do processo de construção das pinturas em encáustica de dimensões generosas, o espaço se manifesta não apenas na representação, como através do estado mental. São observados os meandros do espaço interno, que se mantém no presente ou divaga, enquanto o corpo vai erigindo o espaço pictórico.

Água-viva – Ana Carmen Nogueira, 2013


“Se a tinta à óleo é a prosa da pintura, então a encáustica é a poesia”, diz Chester Arnold no texto de abertura da exposição no Centro Histórico e Cultural do Mackenzie, Encáustica: arte com cera, evento que apresentou obras de Ana Carmen Nogueira, e de suas alunas Sandra Abreu e Zaïra de Abreu, sob curadoria de Marcos Rizolli.


Ana Carmen Nogueira experimenta e explora a encaústica, extraindo dela inúmeros recursos plásticos e incontáveis efeitos visuais. Seu ateliê de encáustica compreende um espaço de contínua experimentação das múltiplas possibilidades contemporâneas de uma técnica milenar. A partir de um relacionamento cotidiano com os materiais, a técnica e os procedimentos, vai descobrindo e revelando inúmeras potências: o calor, a cera e suas densidades; os pigmentos, as cores e suas diluições; as formas, as figuras e seus temas.

Paisagens veladas 2 – Eliane Gallo, 2017


A artista visual, Eliane Gallo apresentou exposição individual na CasaGaleria e oficina de arte Loly Demercian, em 2017.


Intitulada “Paisagens Veladas”, a mostra reuniu obras produzidas entre 2016 e 2017. Foram apresentados trabalhos com elementos figurativos sobrepostos por várias camadas de cera de abelha, numa espécie de “veladura”, como define a artista: “a pintura encáustica é uma técnica milenar que reúne cera de abelha, pigmentos e fogo possibilitando vários desdobramentos de sentidos. Nas minhas obras, há várias paisagens dentro de uma só. São paisagens encobertas que são reveladas pouco a pouco desafiando o olhar do observador.”


Trabalhar com a cera é uma paixão, quanto mais se descobre mais quer saber. A grande verdade a cera se faz amar, por ser tátil, provocar emoções e trazer lembranças por meio do olfato. Não possuímos controle total da matéria, aprendemos a trabalhar com ela e sempre a cera é a coautora da obra. A cera possui a sua própria intenção e é preciso respeitá-la e perceber para onde ela quer caminhar. Com o tempo se aprende a expressar a criatividade seguindo as orientações que ela fornece.


Trabalhar com a encáustica leva a um estado de imersão completa onde o que se sente, deseja e pensa estão em uníssono, é o que MihalyCsikszentmihalyi[1] chama de “estado de fluidez” A metáfora “fluir” é a sensação de ação sem esforço que se sente em momentos que parece ser os melhores momentos da vida. Os atletas se referem a eles como “estar na zona”, os místicos como entrar em “êxtase” e os artistas e músicos “arrebatamento estético”.


Todo o processo desde a alquimia para se fazer a encáustica básica, a mistura das cores, o pintar, o uso do aquecimento para derreter a cera leva a um estado meditativo e prepara para a experiência da criação, da descoberta e da abertura de diferentes caminhos. É preciso ter paciência para se trabalhar com encáustica e ter calma para superar os obstáculos que podem aparecer durante o processo criativo, mas deve-se amar a cera para conseguir fazer arte encáustica.

Ana Carmen Nogueira, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia.


Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Ateliê de Arte.


André Vasconcellos, Advogado, Bacharel em Direito pela PUC-SP, graduando em Letras pela USP, participante do curso livre de preparação do escritor – CLIPE Casa das Rosas 2017, roteirista e leitor.

[1]MihalyCsikszentmihalyi: psicólogo húngaro, criou o conceito psicológico de fluxo, um estado mental altamente focado. É o Professor de Psicologia e Gestão da ClaremontGraduateUniversity.

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