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Encáustica Contemporânea

O século vinte assistiu ao renascimento da encáustica em grande escala. É muito interessante pensar que em nosso tempo, extremamente preocupado com tecnologia avançada, uma técnica tão antiga tenha suscitado tamanha curiosidade.


O desenvolvimento e a acessibilidade das modernas ferramentas de aquecimento substituíram processo longo e complicado, tornando muito mais fácil o crescente interesse pela encáustica. Os artistas contemporâneos perceberam o potencial e as possibilidades criativas da aplicação do calor para transformar a estrutura do sólido para o líquido sem perder suas qualidades. Trata-se de médium versátil que se presta a todos os estilos e gêneros, combina pintura, impressão, colagem e escultura.


A história da encáustica contemporânea começa em 1954 com o pintor Jasper Johns, responsável por colocar cera de abelha pigmentada na tela.


Essas telas iniciais, com suas colagens de alvos, bandeiras, números e mapas – “coisas que a mente já conhece”, disse Johns – permitiu que se concentrasse no ato de pintar. Suas superfícies eram um espectro de textura, encobriam-se com pinceladas e escorriam pingos. À medida que suas imagens evoluíram, a encáustica permaneceu essencial na sua obra.

Flag (1955) by Jasper Johns


Enquanto Johns literalmente colocou a encáustica no mapa, o ressurgimento da cera como técnica já estava em andamento. No México, nos anos vinte, Diego Rivera usou encáustica em pinturas em cavalete e murais. Em Nova York, no final dos anos trinta, Arthur Dove pintou com emulsão de cera. Na Escola do Museu de Boston nos anos quarenta, Karl Zerbe, que era formado como químico em sua Berlim natal, experimentou inúmeras fórmulas antes de se fixar em uma mistura de cera / resina (oito partes de cera de abelha, uma parte de resina damar, uma parte de Teberentina de Veneza[1]).


Os anos sessenta, setenta e oitenta

Em 1958, após a exposição de John na Galeria Leo Castelli, a pintura encáustica disseminou-se entre outros pintores. Brice Marden e Lynda Benglis no final dos anos sessenta até a década de setenta produziram obras trabalhando com cera. As telas de grande escala de Marden, com presença silenciosa com superfície macia e fosca, não eram verdadeiras manifestações de encáustica – “o óleo permanece como a principal cobertura”, escreveu –já, as colunas finas de Bengliseram criadas com cera, resina, pigmento e calor poderiam ser vistas como a verdadeira encáustica.

For Pearl. BriceMarden 1970


Benglis estava interessada no processo tátil de fazer suas próprias tintas, ao ler o livro Materiais e Métodos de Ralph Mayer decidiu experimentar com encáustica. As primeiras pinturas de cera de Benglis de 1966-67 colocaram-na na vanguarda pós-minimalismo e do feminismo.


Nancy Graves começou a trabalhar em encáustica no final dos anos 1970. De 1977 a 1984 criou um grupo de pinturas encáustica vibrantes que se desenvolveu a partir de seu uso inovador de cera em suas esculturas.

Camelos. Nancy Graves 1968


Após residir em Florença, começou a empregar cera na construção de suas primeiras esculturas de camelo, feitas de dentro para fora. Entre 1969 e 1971, Graves continuou a usar esse material em suas séries de esculturas baseadas em ossos de camelo (muitas vezes associados a fósseis). Construiu os ossos de cera sobre uma armadura de aço, colorindo-os com pó de mármore e acrílico.

Love Mom. Rachel Friedberg 1980


As fotos colagens encáusticas de Rachel Friedberg de 1980-81, constituem sua incursão inicial a esse meio. Tendo explorado uma variedade de mídia de colagem e montagem nos anos 60 e 70, ela se voltou exclusivamente para encáustica como resposta ao que descreve como seu esforço “para encontrar um espaço amorfo no qual poderia expressar possibilidades tanto formais como metafísicas.”

Paradisi: A Garden Mural. Michelle Stuart 1985 – 86


Nos anos de 1980, Michelle Stuart, fez instalações e obras em grande escala impregnada de terra e adicionou cera à mistura. Seu médium terra / cera a conduziu no caminho para verdadeira encáustica. Trabalhando de forma modular em papel com musselina, Stuart, aplicou a cera pigmentada com uma espátula e fundiu-a com um ferro, um modus operandi que ela continuou a desenvolver.

Os anos noventa

Os anos noventa viram um aumento exponencial no uso da encáustica, e duas exposições inovadoras o documentaram: Contemporary Uses of Wax and Encaustic no Palo Alto Cultural, (agora Art) Center em Palo Alto, Califórnia, em 1992, e Waxing Poetic: Encaustic Art in America no Monclair Art Museum em Monclair, Nova Jersey, em 1999. Mostrando praticamente a abertura e o fechamento de uma década.


Nos Estados Unidos, os suprimentos para a encáustica começaram a ser mais comercializados e acessíveis nas décadas de 1980 e 1990. O interesse pelo meio cresceu rapidamente à medida que as exposições incluíam mais encáusticas, e também à medida que a literatura sobre a técnica se tornou mais generalizada. Quando Gail Stavitsky começou a organizar sua exposição intitulada Waxing Poetic: EncausticArt in America no Montclair Art Museum, ela recebeu mais de duzentos trabalhos.

Cosmos, 2000. Martin Kline


Algumas décadas depois que Benglis começou a trabalhar com cera, Martin Kline passou a usar com estilo semelhante. Ele pinta com o médium encáustica para criar superfícies com fortes texturas, com vários centímetros acima da base, em estilo que é surpreendentemente semelhante ao de Benglis.

Napoleon:ShavingatAusterlitz. Tony Sherman, 1996-98


Os artistas desafiaram também a ideia de trabalhar em pequena ou larga escala com colagem como suporte: os retratos de grande escala de Tony Scherman usam um estilo pictórico para apresentar abordagem texturizada e em camadas para construir narrativa.

Encáustica no século vinte e um

Neste novo século, nos Estados Unidos, à medida que a encáustica perde seu status de novidade, a história e a história da arte vão se entrelaçando mais. Cada nova pintura, exposição, ensaio e crítica contribui para o desenvolvimento da técnica.

Instinct V. Robin Cole Smith. 2017


A artista americana Robin Cole Smith trabalha uma abordagem diferente para esta técnica antiga. Depois de colocar em camadas o desenho transferido para a cera, ele fica suspenso a intervalos entre camadas de cera de abelha. O interessante é que não há papel envolvido no produto final.

O artista espanhol José Maria Cano cria pinturas de cera em grande escala com base em recortes de jornais, fotografias e quadrinhos. Ele é famoso por sua série The Wall Street 100 que se consisti de retratos em grande escala de algumas das mais influentes personalidades do ponto de vista econômico.


Referências Bibliográficas

MATTERA, Joanne. The Art of Encaustic Painting: contemporary expression in the ancient médium of pigmented wax. Watson-Guptill Publications: New York, 2001.


Encaustic – The Ancient Painting Technique. acesso em 22/02/2018 disponível em https://www.widewalls.ch/encaustic-ancient-painting-technique/

[1] Líquido viscoso que não deve ser confundido com a terebintina tradicional. Amplamente usada pelos mestres da antiguidade, dá corpo à tinta com um tempo ideal de secagem. Atualmente tem sido substituída por um produto conhecido como Bálsamo do Canadá, mais fino e claro que a original.


Ana Carmen Nogueira, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Graduação em Artes Plásticas. Especialista em Educação Especial com aprofundamento na área de deficiência visual e Arteterapia. Desenvolve pesquisa de pintura encáustica, ministra cursos desta técnica e atua como Arteterapeuta no Ana Carmen Ateliê de Arte.


André Vasconcellos, Advogado, Bacharel em Direito pela PUC-SP, graduando em Letras pela USP, participante do curso livre de preparação do escritor – CLIPE Casa das Rosas 2017, roteirista e leitor.

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